No passado sábado (17/03/2012), no Jornal da Noite da SIC, ouvi uma frase que me apressei a registar. Disse-a António Arnaut, a propósito do agravamento das condições de acesso aos cuidados de saúde de grande parte da população. A frase é a seguinte: “O sofrimento dos humilhados só pode redimir-se pela revolta”.
Logo rabisquei a lápis num papel as palavras: humilhação, indignidade, indignação. E também me lembrei do desafio que um ministro da saúde, médico ainda por cima, um dia fez ao parlamento: “quem quer saúde, pague-a!” (isto já foi há pouco mais de 30 anos, ainda não havia o SNS). E ocorreu-me ainda ir ver um apontamento onde está este cartaz visto numa manifestação em França em 2006 : “qui sème la misère, recolte la colère”.
Ora, ontem, ao abrir o jornal Público, deparei com uma magnífica reportagem, de 2 páginas, da jornalista Paula Torres de Carvalho que tem por título: “Longe do médico, sem dinheiro e sem transportes”. Destaco o parágrafo seguinte: “Longe do atendimento médico, sem dinheiro e sem transportes, assim vivem milhares de pessoas no interior do país.”
Há muitos humilhados no país: pobres, trabalhadores pobres, desempregados, precários, idosos em solidão, mulheres a aguentarem sozinhas a carga familiar e tantas vezes vítimas de violência, crianças sem carinho. Mas quando a humilhações destas se junta o não se poder tratar da saúde como deve ser, em resultado de políticas de cortes e mais cortes, é de esperar que se levante a indignação dos que as sofrem ou a indignação dos que sentem que é injusto isto estar a acontecer.
É importante que se exerça o direito à indignação. Mas pelo menos tão importante é ter-se informação sobre as situações de vida e trabalho que fazem tantos sofrer e mais ainda sobre as soluções ou caminhos de solução para os problemas. Só assim se poderão redimir os humilhados. Revolta, mas organizada, o que é difícil que aconteça, se for só revolta.
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