À medida que vão sendo postas em prática as políticas de austeridade acordadas entre o estado português e os representantes dos seus credores, mais se fazem sentir os seus efeitos colaterais, quer no anunciado fraco desenvolvimento da economia nacional quer nas suas previsíveis consequências sociais (desemprego, pobreza, agravamento da desigualdade na repartição da riqueza e do rendimento).
Os dados de conjuntura recentemente divulgados sustentam esta afirmação, com previsões para os dois próximos anos de contracção do PIB de 2.5% , taxa de desemprego superior a 12 % e inflação a rondar os 3%. Nada que admire os analistas macroeconómicos: questão de aritmética, dizem.
O que me surpreende nestas análises é a aceitação conformista da sua pseudo inevitabilidade e o não questionamento crítico das escolhas dos caminhos que a elas conduzem, confrontando-os com os objectivos últimos da economia: o nível e qualidade de vida das pessoas num dado território e o bem comum expresso em coesão social e sustentabilidade.
Há, certamente, um erro de enfoque que já não distingue os fins e os meios da economia e converte estes últimos em objectivos, fazendo do seu cumprimento o critério único de desempenho económico. Um erro de perspectiva que subestima as potencialidades de uma aposta num desenvolvimento a partir da base, com participação das pessoas e melhor aproveitamento dos recursos humanos e outros disponíveis.
Por que não dar a devida prioridade a uma forte aposta em medidas positivas de emprego em programas de desenvolvimento local e ao fortalecimento da economia social que por sua natureza está abrigada de uma globalização desregulada?
Por que não recorrer a políticas activas de modernização do tecido produtivo?
Por que recear uma política corajosa de combate à pobreza e à elevada desigualdade na repartição do rendimento?
A conferência do próximo dia 30 Setembro na Fundação Gulbenkian – Economia portuguesa: uma economia com futuro - não deixará de levantar estas e muitas outras interrogações pertinentes ao nosso presente e ao nosso futuro.
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