O período de campanha eleitoral que agora se encerra foi revelador, além do mais, do distanciamento dalguns dos grandes actores da cena política nacional em relação às questões que realmente contam no presente e no futuro dos portugueses.
O debate não incidiu nas grandes opções estratégicas que se abrem aos portugueses. Discutiu-se, isso sim, por exemplo, as diferentes versões do documento elaborado pela «Troika» e as responsabilidades de cada um nessa diversidade.
É como se o País já tivesse sido «sub-contratado» ao FMI e à Senhora Merkel, e os políticos nacionais devessem resignar-se a cantarolar e assobiar, como música de fundo.
Recordei a personagem imaginada por Hergé, o criador do Tintin e da Milou, e simbolizando o português típico, o senhor Oliveira da Figueira. E assim regressei à minha infância, em busca das raízes portuguesas.
O Oliveira da Figueira é um sujeito simpático que apenas tem o defeito de ser, acima de tudo, um vendedor.
Numa aventura de Tintin no Sára, ele vai encontrar o português num acampamento touareg, devidamente vestido à maneira local.
Tintin é recebido calorosamente pelo nosso compatriota, que o conduz à sua tenda, para conversa afectuosa.
Vemos depois Tintin sair da tenda, carregando insólitos objectos, como um par de esquis, um papagaio e mesmo um chapéu de chuva. Tudo objectos de primeira necessidade, em pleno deserto...
E murmura Tintin:
Se não temos cuidado com estas pessoas, acabamos por comprar coisas de que não precisamos!
No presente cenário português, parece também haver um deserto onde alguns estranhos seres que aqui habitam nos prometem coisas de que não precisamos assim tanto.
Mas esquecem as que efectivamente nos fazem falta, como competência, rigor, honestidade intelectual e, sobretudo, nos abram portas para um caminho menos desértico do que aquele em que a «Troika» acampou para ficar.
Entretanto, por entre as dunas na areia destes nossos dias, avistamos solitários camelos em busca de água.
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