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26 março 2011

A história do agricultor que comia as sementes (II)


E agora? (antes de continuar, veja o episódio anterior aqui)

Agora a coisa está complicada, porque já não temos sementes para investir e o que continuamos a pedir emprestado mal chega para pagar: os empréstimos anteriores, os respectivos juros e para cobrir um pouco das despesas correntes. Não apenas deixamos de ter para semear, como há riscos de deixarmos de ter para comer.

Não é fácil sair deste circo. Qualquer que venha a ser o buraco encontrado para a saída ele não deixará de nos confrontar com a necessidade de: sermos mais austeros no nosso estilo de vida; colocar numa dieta de emagrecimento um grande número de nós e, sobretudo, os que antes, deixaram crescer a barriga; tentar criar algum excedente (poupança) que nos permita investir para crescermos e nos desenvolvermos.

De outro modo, comendo todas as sementes nunca convenceremos os credores de que algum dia teremos capacidade para os reembolsar e, por isso, só continuarão a emprestar-nos a taxas de juro que nos levam a carne e o osso.

Explicação simplista? Um pouco! Só que mais vale com uma explicação simplista tentar compreender alguma coisa, do que não compreender nada com explicações sofisticadíssimas que só servem para alienar o “patego”, distrai-lo, e pô-lo a “olhar para o balão”, enquanto os ladrões, à solta, vão fazendo a limpeza dos nossos bolsos.

E então o que fica de fora da explicação? São múltiplas as dimensões desta questão e, por isso, tantas outras ponderações devem ser feitas quando procuramos uma solução. No entanto, o que acima fica dito não é minimamente beliscado por essas ponderações. Teremos que ter em conta que:

1. O que pedimos emprestado não serve apenas para pagar dívidas mas, também, para pagar funcionários, consumíveis de serviços públicos (tribunais, educação, saúde);

2. Os mercados que nos emprestam dinheiro só deixarão de nos roer quando se convencerem que não precisamos deles (e, certamente que irão, depois, afiar o dente noutros países, talvez em Espanha);

3. Quem investe nos mercados financeiros, são particulares e são instituições públicas, daí decorrendo que a aceitação de soluções alternativas por parte dos designados “estados membros” está condicionada à convicção de que os compromissos assumidos com os mercados não serão postos em causa (estão a salvaguardar os interesses dos seus investidores financeiros);

4. Uma alternativa poderá ser o recurso aos Fundos mas, para além das exigências que nos serão feitas em termos de condução das políticas, económicas e sociais, não é seguro que venhamos a ter juros mais baixos do que os que já temos actualmente; e se entenderem que não nos estamos a portar bem, até podem interromper-nos as transferências de financiamentos, anteriormente acordadas;

5. Uma outra alternativa poderia ser o rompimento com o quadro da moeda única europeia (União Monetária), mas importa que estejamos bem conscientes das consequências que daí decorrem, por ex., em termos de descredibilização da moeda;

6. Para além disso, não basta que se tome a decisão de investir em crescimento para que daí decorra, necessariamente, crescimento e, muito menos, desenvolvimento.

E então?

Então, temos que começar por promover o aumento da consciência cívica de todos, também em matéria de economia, com vista a que tenhamos cidadãos, cada vez mais, donos do seu destino e, cada vez menos, correias de transmissão de interesses que os alienam, como até aqui, em grande medida, tem acontecido.

O resto só poderá virá depois.

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