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15 janeiro 2021

O legado de Manuela Silva: As Boas Ideias no Planeamento Levam à Resilência

A visão de Manuela Silva para a economia e a sociedade, baseada em valores cristãos, sempre se orientou pela Doutrina Social da Igreja e levou-a à Presidência da Commissão Nacional Justiça e Paz. Mais recentemente, trabalhou sobre a visão do Papa Francisco nas suas obras: Evangelii Gaudium e Laudato Sí. O planeamento da economia, interligado com a sociedade e a ecologia, deve ter em consideração a pessoa humana e a natureza. Tudo faz parte da nossa Casa Comum. A economia não floresce verdadeiramente se os seres humanos e a natureza forem utilizados meramente como recursos instrumentais e descartáveis.

No nosso mundo neo-liberal, o foco da economia centra-se na eficiência material: na produção, no emprego, no investimento, no crescimento do PIB. O ser humano é visto como um instrumento da economia.

Ora, para Manuela Silva, o bem não é só material, mas incorpora as necessidades da pessoa toda, e conduz a sociedade ao bem comum. Tal economia é equilibrada, sem assimetrias. O ser humano é respeitado, não é explorado no emprego e nas trocas comerciais. Assim, a pobreza é contra a dignidade da pessoa. Sem respeito, não há justiça. Sem justiça, não há resiliência.

A estrutura económica em que vivemos incorpora a base ecológica e a parte física constituída pelo investimento, pela política estratégica e económica e pela contribuição dos cidadãos. A base ecológica fornece-nos recursos naturais sem os quais não podemos viver. Ter em consideração os recursos e a sua boa gestão asseguram o nosso bem-estar e o nosso futuro. Esta é outra componente da resiliência.

Manuela Silva preocupava-se também com o avanço da tecnologia e com a nossa capacidade de a utilizar bem, de não nos tornarmos servos dela. A invasão da inteligência artificial coloca-nos numa fragilidade preocupante. Constitui outra ameaça à resilência. A tecnologia pode aumentar a eficiência económica, mesmo em termos de respostas ambientais. Porém, devemos estar sempre conscientes do seu eventual custo. Como utilisá-la bem? Mais uma vez, a consideração da pessoa é uma componente vital na sua avaliação.

Um poder político ao serviço da Casa Comum está ciente das implicações das escolhas políticas e económicas. Principalmente, evita tornar-se dependente do mercado que revela cada vez mais falhas. Um bom planeamento exige a análise de todas as componentes, e da sua interligação. A ecologia integral que o Papa Francisco apresenta na sua encíclica, Laudato Sí, é uma boa base para o planeamento. Está ligada ao humanismo. Não se trata só de eficiência instrumental e de crescimento económico, mas de um exame profundo do mundo resiliente que gostariamos de habitar, de um futuro onde florescem a economia, a sociedade e a natureza. O bem comum exige não só a participação do poder político, (atuando com instituições e empresas), mas também o compromisso e responsabilidade individuais. A resilência depende de tudo isto, porque tudo está interligado. Resulta num mundo onde reinam a amizade, o cuidado, e a unidade, não a fragmentação, o abuso, e as assimetrias.

Para chegar a este mundo, é necessário não só conhecimento científico e técnico, mas também sabedoria, que provem da reflexão, como a vivida por Manuela Silva, com a sua generosa preocupação para com tudo e o seu infatigável empenhamento na educação e na ação.

Manuela Silva partilhou com muita gente a sua visão lúcida, com o qual o GES pretende continuar.

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