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14 agosto 2019

Nobreza de Espírito – um ideal esquecido

Publicado em 2011, o livro de Rob Riemen com este título continua a ser de extrema actualidade.

O Autor é holandês, ensaísta, filósofo e fundador e director do Instituto Nexus, um centro internacional sediado na Holanda e dedicado à reflexão e ao debate cultural e filosófico sobre o pensamento ocidental, designadamente a partir do sec XVII e todo o diálogo com o pensamento científico desde então emergente e com a complexidade crescente das relações entre os cidadãos e entre os povos.

Neste livro, o seu Autor argumenta que a nobreza de espírito é “a quinta-essência de um mundo civilizado. Sem nobreza de espírito, a cultura desvanece-se”. E adverte: ”Contudo, no século XXI, um tempo em que a dignidade humana e a liberdade estão em perigo, este conceito é raramente tido em conta”.

Para Rob Riemen, a nobreza de espírito é o grande ideal. É a realização da verdadeira liberdade, e não pode haver democracia, mundo livre, sem este alicerce moral. Neste sentido, há que revisitar o pensamento de grandes pensadores, como Goethe, Thomas Man ou Spinoza, entre muitos outros.

Estas reflexões são da maior actualidade e ajudam a perceber, entre outros, o fenómeno da corrupção generalizada que grassa não só no nosso País como no mundo em geral e evidencia como não basta aperfeiçoar os meios legais de o prevenir e combater, por mais relevantes e urgentes que estes sejam.

Entre nós, é raro o dia em que a comunicação social não desoculta ao cidadão novos casos de corrupção, a sua relevância, abrangência e nível de sofisticação crescentes, que pode inclusive, aproveitar dos “buracos negros “ das leis em vigor, desvanecendo, perigosamente a fronteira da legalidade e da legitimidade.

As leis carecem de aperfeiçoamento, mas estes de pouco valerão se não forem enxertadas num ideal esquecido de valores humanistas de aceitação generalidade e tidos estes como padrão de comportamentos devidamente consensualizados e explícitos. De contrário, caminharemos para a barbárie resultante da condescendência quanto aos valores em causa, quando não para o relativismo e o nihilismo, porta aberta para pôr em risco a própria democracia.

A justiça está longe de cumprir a sua função de repor a legalidade e a legitimidade, dentro de prazos aceitáveis que sirvam de factor de dissuasão e de prevenção, mas, ao invés, alimenta a ideia generalizada de que o crime compensa. Assim, vemos grassar, quase impune, a lavagem de dinheiro, a fuga aos impostos e perda de elevados montantes de receitas públicas, a promiscuidade de interesses entre o público e o privado, com prejuízo do estado e do bem comum.

Cabe ao cidadão zelar pelo “nobreza de espírito” e trazer para a agenda política, mas também para a acção educativa, nas famílias, nas escolas, nas várias instituições empresariais, políticas e cívicas, este ideal esquecido.

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