O poeta diz que o menino que acabara de
nascer é:
— Belo porque
tem do novo
a surpresa e a
alegria.
— Belo como a
coisa nova
na prateleira
até então vazia.
— Como
qualquer coisa nova
inaugurando o
seu dia.
— Ou como o
caderno novo
quando a gente
o principia.
— E belo
porque o novo
todo o velho
contagia.
João
Cabral de Mello Neto, Morte e Vida Severina
PRIVATIZAÇÃO
OU NACIONALIZAÇÃO?
Dos resultados da privatização já falámos quanto baste. Não vale a pena imputar culpas ao Lone Star. Elas devem, antes, ser atribuídas a quem concebeu os mecanismos do Fundo de Resolução e não foi capaz (ou talvez tenha sido!) de perceber que, com os procedimentos previstos, o resultado não podia ser outro. O Lone Star apenas deles se tem vindo a aproveitar, como resultava da sua natureza.
Em vez da privatização a outra alternativa, que poderia ser utilizada, era a da nacionalização, como antes foi referido. Tem-se dito que a nacionalização teria custado ao Estado português muito mais do que o que já custou a solução da privatização. Não percebo! Talvez porque o que tem sido dito não tem sido explicado.
Em vez da privatização a outra alternativa, que poderia ser utilizada, era a da nacionalização, como antes foi referido. Tem-se dito que a nacionalização teria custado ao Estado português muito mais do que o que já custou a solução da privatização. Não percebo! Talvez porque o que tem sido dito não tem sido explicado.
Eu também não
sei dar as explicações, mas há perguntas que têm de ser feitas. Em primeiro lugar, porque
é que a nacionalização deveria custar mais ao Estado do que custou a privatização?
O Lone Star pagou zero para ficar com 75% do Novo Banco. Porque é que o Estado
deveria pagar, a si próprio, mais? Só se for por causa dos 1 000 milhões
de euros que lá foram injetados pela Lone Star, mas isso não foi grande coisa
para quem ficou com 75% do capital e, desse modo, com poder para conduzir as
orientações estratégicas do banco.
Ora, dado o seu currículo, o Lone Star em
vez de tentar recuperar ativos tóxicos, terá é interesse em que eles se
desvalorizem, porque sabe que, sem custo para ele, o Fundo de Resolução lá meterá
o dinheiro que for necessário para compensar a sua desvalorização e, depois, poderá
proceder à venda dos ativos ao desbarato. Isto é, as habilidades de gestão
fraudulenta que vier a praticar continuam a custar zero ao Lone Star. Se o banco tivesse sido nacionalizado era
possível admitir que, com uma gestão mais criteriosa, as perdas da
desvalorização não se teriam verificado.
Tem-se invocado
como argumento contra a nacionalização as dificuldades que a União Europeia poderia
colocar à implementação desta solução. Não se percebe porque é que haveria de
colocar dificuldades a Portugal, quando não as colocou em outros países, por
ex., em Itália, com a recapitalização do banco Monte dei Paschi di Siena. Para além
disso, a nacionalização, dadas as condições em que se fez a partição do BES, só
poderia ser, segundo Bruxelas, uma nacionalização transitória, logo, envolvendo
menos dificuldades do que se tratasse de uma nacionalização definitiva.
Poderá ser
invocada uma outra dificuldade que tem a ver com a possibilidade da intervenção do Fundo de
Resolução, no caso da nacionalização. Haverá quem argumente que o Fundo de
Resolução pode fazer financiamentos ao banco no caso da Lone Star, mas não o
pode fazer no caso da nacionalização. Não sei se há alguma restrição de
Bruxelas ou de Frankfurt sobre esta matéria, mas o que é certo é que não se compreende porque é que o Fundo de Resolução (de que é dono o nosso sistema
financeiro) haveria de financiar o banco (que é um Fundo, que tem sido designado como abutre) quando ele é privado e não o pode
fazer quando quem compra é o Estado.
Mas há mais. Não
se pode dizer que é despiciente o banco poder ser considerado como um centro de
decisão nacional ou não. É bom não esquecer que o BES e depois o Novo Banco constituem
uma das principais fontes de financiamento do tecido produtivo nacional, nomeadamente das pequenas e médias empresas. Na tradição das intervenções do Lone Star, se este vier a alterar a sua estratégia, numa fase da economia portuguesa, em que necessitamos
de recuperar e acelerar a atividade das empresas, vamos ter um grande problema.
Depois queixem-se de que a economia não recupera!
Dito isto,
pode-se-lhe chamar tudo, mas Novo, como na “Morte e Vida de Severina”, é que
não.
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