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22 abril 2018

Uma economia em choque com a vida

A mais pequena e serena reflexão permite-nos concluir que a vida, recheada como é de múltiplas circunstâncias e episódios os mais diversos, naturalmente uns por vezes tristes ou mesmo dolorosos e outros jubilosos quando não até gloriosos, reveste-se de uma dignidade não comparável a qualquer outra faceta da realidade. Constitui por isso o valor supremo para qualquer ser humano. Li ou ouvi algures, e subscrevo, que “a vida é a causa de todas as causas”.

Acontece que, não obstante as comodidades proporcionadas pelas inovações científicas e tecnológicas, o mundo hoje, para a esmagadora maioria das populações, não é um lugar seguro, confortável e promissor. Pelo contrário, as condições de vida de muitos seres humanos, os recorrentes conflitos sociais e políticos e a amplitude e persistência dos fenómenos climáticos a que vimos assistindo geram um sentimento de insegurança e desconforto e fazem prever, para muitos, um nefasto e cinzento futuro.

Tenho para mim que, de entre as causas que nos conduziram à actual situação, avultam duas enormes imprudências, fruto da acção de empresas e decisores políticos irresponsáveis e do desconhecimento ou passividade de boa parte das populações.

A primeira diz respeito à instalação e funcionamento de centrais nucleares para produção de energia eléctrica, desconhecendo-se já nessa altura como ainda hoje ( ! ) qualquer solução para o destino seguro a dar aos resíduos altamente tóxicos e cancerígenos delas provenientes. Um décimo milionésimo de grama de plutónio (cuja radioactividade dura pelo menos 25 mil anos !) basta para provocar um cancro do pulmão e um reactor de 1000 MW produz cerca de 300 Kg de plutónio por ano. Isto, sem contar com a contaminação radioactiva das águas, dos solos e por consequência das cadeias alimentares que terminam no homem. Já para não falar da eventualidade de acidentes atribuíveis a falhas humanas ou provocados por catástrofes naturais cujos funestos efeitos infelizmente já foram demonstrados várias vezes, nomeadamente em Three Mile Island, Chernobyl ou Fukushima.

A segunda destas imprudências tem a ver com o assalto desenfreado aos recursos naturais do planeta a um ritmo de delapidação 1,6 vezes superior ao da sua capacidade de regeneração. Os seus efeitos são de todos conhecidos : esgotamento de muitos desses recursos naturais, perda acentuada da biodiversidade, poluição atmosférica ( responsável por 11,6% das mortes no mundo), águas e solos contaminados, escassez de água potável em várias regiões do globo, fenómenos climáticos extremos, de entre os quais temperaturas cada vez menos suportáveis pelos seres humanos, inevitáveis consequências na saúde das pessoas, animais e plantas, numa palavra, no planeta, nossa casa comum.

Estamos a ser actores de uma economia em choque frontal com as formas de vida na Terra. Vários cientistas do clima, em carta publicada a 11/01/2016 no jornal The Independent anunciam que o Acordo de Paris não vai evitar uma mudança climática devastadora à qual a nossa civilização não vai sobreviver! Não estamos nós a negar o direito à vida e saúde das gerações futuras ?

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