A comunicação social tem
vindo a publicitar informação sobre o Salário Mínimo Nacional, reportada a
Março de 2017.
O nível salarial mínimo
fixado para 2017 é da ordem dos 557 euros mensais, estimando-se que atinja
cerca de 730 mil trabalhadores, ou seja, cerca de 22,9% dos trabalhadores a
tempo completo. Em Abril de 2005 e de 2010, a correspondente percentagem era de
4,8% e de 9,4%, respectivamente, o que aponta para uma subida muito rápida do
peso ocupado pelo Salário Mínimo no mercado de trabalho português.
De salientar que o nível
salarial mínimo em Portugal é o mais baixo da Europa Ocidental, situando-se
mesmo num patamar inferior ao de alguns países da Europa de Leste, quando
calculado em paridades de poder de compra, ou seja, depois de retirada a
influência do custo de vida nestes países.
A importância crescente do Salário
Mínimo, nos últimos anos, aliada ao facto de se ter também vindo a assistir ao
aumento do seu peso relativo, por comparação com a mediana das remunerações
nacionais, o que levou a um achatamento na distribuição salarial na sua aba
inferior, desencadeou algumas tomadas de posição nos media.
Defendem alguns que as
últimas revisões do Salário Mínimo têm sido exageradas, o que impossibilitará
subidas significativas nos próximos anos, em resultado dos efeitos negativos esperados
sobre a competitividade e o emprego. No que se refere ao impacto desfavorável
no emprego, foram apresentados alguns estudos, designadamente da OCDE e da
Comissão Europeia, que chamam a atenção para os riscos associados à adopção de um
aumento sem melhorias equivalentes na produtividade. A este propósito, importa porém
recordar que a investigação, a nível internacional, sobre o impacto do Salário
Mínimo sobre o emprego já tem muitos anos e está longe de ser consensual.
Sem entrar naquela
controvérsia, desejamos antes focarmo-nos sobre o que está a acontecer quanto à
evolução dos salários médios, bem como a sua comparação com a do Salário
Mínimo. A observação dos elementos constantes dos Relatórios de Acompanhamento
do Acordo sobre a Remuneração Mínima Mensal Garantida (RMMG) mostra que a
evolução acumulada deste, entre 2010 e 2016 (11,6%), terá sido efectivamente superior
à evolução conjugada da desvalorização nominal do cabaz de compras padrão
definido pelo INE como Índice de preços no consumidor e do aumento da
produtividade, no mesmo período. Pelo contrário, a remuneração dos
trabalhadores decresceu neste horizonte, ao contrário do registado, tanto para
a inflação como para a produtividade. A remuneração ter-se-ia reduzido, desta
forma, em 2,3%, enquanto a produtividade subiu 1,6%, aumentando consequente a
repartição funcional a favor do capital. Também a evolução dos salários
negociados no quadro da contratação colectiva, em 2014 e 2015, foi significativamente
inferior, “o que sustenta uma apreciação cautelosa dos impactos do aumento da
RMMG, não parecendo esta influenciar a evolução média salarial, nem os salários
actualizados na contratação colectiva” (www.portugal.gov.pt/media/23718907/20161219-mtsss-rmmg-pdf).
Podemos concluir que o facto
da remuneração dos trabalhadores de baixos salários não ter acompanhado a
evolução registada na média, permitiu que evitar uma desvalorização, a qual
teria sido bem superior à que resultaria da tomada em conta da evolução da
produtividade e do custo de vida. Sendo assim, apetece perguntar: é a evolução
do Salário Mínimo que é alta ou é antes a dos salários médios que é baixa?
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