Os
últimos dados da sétima edição do Inquérito Social Europeu (European Social Survey, ESS7), contendo
já informação sobre Portugal, estão disponíveis desde 26 de Maio último (ver aqui).
Neste
Inquérito procura-se “medir”, tanto quanto possível, dimensões difíceis de
aperceber como as percepções, as expectativas e os comportamentos individuais
relativamente a domínios de extrema complexidade como, por exemplo, o bem-estar
individual e social, a confiança na justiça ou a “avaliação” do estado da
democracia. Através de uma metodologia de relativa complexidade e que não deixa
de sublinhar as limitações inerentes, torna-se possível comparar os resultados
para Portugal e outros Estados Membros (EEMM) relativamente, por exemplo, à
percepção subjectiva de bem-estar. Não se justificando desenvolver aqui a
análise crítica da relação entre bem-estar e desenvolvimento económico,
relembramos apenas o ganho de importância da dimensão bem-estar a partir de abordagens
de referência como a de Stiglitz, Sen e Fitoussi (2009)[1].
Constata-se
então que em Portugal a percepção subjectiva média de bem-estar é extremamente
baixa, ocupando o nosso país o 5º pior lugar entre os 28 EEMM. A decomposição
do índice compósito que preside àquela ordenação revela-nos que as duas
dimensões críticas na percepção de bem-estar no nosso país são a segurança
económica e a coesão social: os desvios em relação à tendência média dos 28 EEMM
são respectivamente iguais a -4,24 e -3,96, contra valores correspondentes de
-2,01 e -3,16 para a Itália, único EEMM da Europa do Sul que nos acompanha nestes
resultados. Ao mesmo tempo, é entre nós que se verifica o mais elevado gap de género na percepção de bem-estar
(http://esswellbeingmatters.org/).
Ainda
no domínio da percepção de bem-estar é interessante considerar as opiniões
sobre o papel do Estado e o grau de satisfação com o seu desempenho. No que
respeita ao primeiro aspecto, encontramos o nosso país no grupo de EEMM que mais
defende a intervenção pública, enquanto que relativamente à apreciação do
desempenho do Estado na promoção do bem-estar Portugal desce significativamente
na escala ordenada de EEMM.
De
entre as múltiplas potencialidades de análise destaca-se ainda a possibilidade
de se construírem perfis por EEMM quanto à percepção de bem-estar individual e
social. Tais perfis decorrem das medidas relativas a oito dimensões axiais: optimismo
(positive feelings), confiança e
sensação de pertença, rede de relações pessoais, atitude positiva, resiliência
e auto-confiança, vitalidade, satisfação com a vida e (ausência) de pessimismo
(negative feelings). No caso
português, são a rede de relações pessoais e a resiliência e auto-confiança as
dimensões com maior peso quando em comparação com a Áustria, Finlândia e
Hungria, enquanto que a satisfação com a vida e a ausência de negative feelings constituem as
principais dimensões críticas entre as oito consideradas (http://www.europeansocialsurvey.org/docs/findings/ESS1_5_select_findings.pdf).
[1] Stiglitz, J. E., Sen, A., Fitoussi, J. (2009). Report by the Commission on the
Measurement of Economic Performance and Social Progress. [Online]
Os indicadores apresentados deveriam merecer um debate alargado acerca das eventuais causas da situação que reflectem e motivar a construção de uma visão prospectiva acerca das políticas necessárias para as superar.
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