“Vingança” é a palavra (1) que se vê repetida
a propósito da forma como a Alemanha conduziu as negociações sobre a dívida grega,
sem que os outros Estados - Membros da Zona Euro se dessem ao trabalho de a
contestar, quanto mais não fosse valorizando algumas soluções que o governo grego foi apresentando.
E não tinha que ser assim.
Recordamos que, a certo passo, se tornou bem
claro que o principal problema era a côr política daquele governo e não considerações negativas acerca
das suas propostas, as quais, se tivessem nascido de uma força política social-
democrata, seriam susceptíveis de aceitação por parte dos credores.
Pesou também, certamente, no rumo nefasto dos
acontecimentos, o receio de que uma solução realista para o problema da dívida
excessiva grega pudesse levar outros países, como a Itália, Portugal ou a
Espanha, a requerer, mais tarde ou mais cedo, algo de semelhante.
Mas este argumento não deveria poder ser
invocado para legitimar uma estratégia de penalização acrescida sobre o povo
grego, o qual suporta elevados custos
sociais após sucessivos programas de austeridade, pois, como bem recorda
Jeffrey D. Sachs, já Kant afirmava que os países , tal como as pessoas, devem
ser tratadas como fins e não como meios.
Sachs, com larga experiência na gestão de
crises financeiras, afirma (2) que sendo muito desequilibrado o jogo de forças,
uma gestão bem sucedida depende da sabedoria demonstrada pelo credor, sendo
este que detém o poder face ao devedor. É por este motivo que advoga,
enfaticamente, que a Alemanha deveria repensar a sua posição na crise grega.
Acresce que as condições impostas à Grécia
irão, muito provavelmente, manter o círculo vicioso da austeridade e da recessão
económica, inviabilizando a capacidade de pagar a elevada dívida pública. A
forte probabilidade de saída da zona
euro por parte daquele país continua a ser equacionada, por exemplo, pelo
economista alemão Wolfgang Münchau (3), que nos alerta, também, para o risco de
opções não democráticas nas próximas eleições se, como prevê, o programa que
lhe foi imposto vier a falhar.
Certo é que o que venha a suceder à Grécia terá
impacto no futuro da União Europeia, pelo que é do seu próprio interesse criar
as condições para reestabelecer a confiança e corrigir aquilo que nem a justiça
nem a racionalidade económica deveriam ter permitido.
Onde estão os estadistas com visão do futuro
para uma liderança sábia da Europa?
(1) The Euroskeptic Vindication, Paul Krugman, The Conscience of a
Liberal, July 19, 2015 e Europe´s Vindictive Privatization Plan for Greece, Yanis Varoufakis,
Project Syndicate, July 20, 2015.
(2) Germany, Greece, and the Future of Europe, Jeffrey D. Sachs, Project
Syndicate, July 20, 2015.
(3) Grexit remains the likely outcome of this sorry process, Wolfgang Münchau,
Financial Times July 19, 2015.
Até quando os líderes políticos europeus continuarão a ser cegos e surdos à evidência empírica de que as políticas de austeridade excessiva não servem para enfrentar as crises de dívida dos estados?
ResponderEliminarAté quando é vã a palavra solidariedade?