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21 julho 2015

A responsabilidade partilhada pelo futuro da Grécia



“Vingança” é a palavra (1) que se vê repetida a propósito da forma como a Alemanha conduziu as negociações sobre a dívida grega, sem que os outros Estados - Membros da Zona Euro se dessem ao trabalho de a contestar, quanto mais não fosse valorizando algumas  soluções que o governo grego foi apresentando.

E não tinha que ser assim.

Recordamos que, a certo passo, se tornou bem claro que o principal problema era a côr política daquele  governo e não considerações negativas acerca das suas propostas, as quais, se tivessem nascido de uma força política social- democrata, seriam susceptíveis de aceitação por parte dos credores.

Pesou também, certamente, no rumo nefasto dos acontecimentos, o receio de que uma solução realista para o problema da dívida excessiva grega pudesse levar outros países, como a Itália, Portugal ou a Espanha, a requerer, mais tarde ou mais cedo, algo de semelhante.

Mas este argumento não deveria poder ser invocado para legitimar uma estratégia de penalização acrescida sobre o povo grego, o qual  suporta elevados custos sociais após sucessivos programas de austeridade, pois, como bem recorda Jeffrey D. Sachs, já Kant afirmava que os países , tal como as pessoas, devem ser tratadas como fins e não como meios.

Sachs, com larga experiência na gestão de crises financeiras, afirma (2) que sendo muito desequilibrado o jogo de forças, uma gestão bem sucedida depende da sabedoria demonstrada pelo credor, sendo este que detém o poder face ao devedor. É por este motivo que advoga, enfaticamente, que a Alemanha deveria  repensar a sua posição na crise grega.

Acresce que as condições impostas à Grécia irão, muito provavelmente, manter o círculo vicioso da austeridade e da recessão económica, inviabilizando a capacidade de pagar a elevada dívida pública. A forte  probabilidade de saída da zona euro por parte daquele país continua a ser equacionada, por exemplo, pelo economista alemão Wolfgang Münchau (3), que nos alerta, também, para o risco de opções não democráticas nas próximas eleições se, como prevê, o programa que lhe foi imposto vier a falhar.

Certo é que o que venha a suceder à Grécia terá impacto no futuro da União Europeia, pelo que é do seu próprio interesse criar as condições para reestabelecer a confiança e corrigir aquilo que nem a justiça nem a racionalidade económica deveriam ter permitido.

Onde estão os estadistas com visão do futuro para uma liderança sábia da Europa?



(1) The Euroskeptic Vindication, Paul Krugman, The Conscience of a Liberal, July 19, 2015 e Europe´s Vindictive Privatization Plan for Greece, Yanis Varoufakis, Project Syndicate, July 20, 2015.
(2) Germany, Greece, and the Future of Europe, Jeffrey D. Sachs, Project Syndicate, July 20, 2015.
(3) Grexit remains the likely outcome of this sorry process, Wolfgang Münchau, Financial Times July 19, 2015.

1 comentário:

  1. Até quando os líderes políticos europeus continuarão a ser cegos e surdos à evidência empírica de que as políticas de austeridade excessiva não servem para enfrentar as crises de dívida dos estados?
    Até quando é vã a palavra solidariedade?

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