Mais uma vez, os media trazem
até nós as discussões a propósito da actualização do Salário Mínimo. A posição
do governo tem sido a de que a crise aconselha a não realização ou o adiamento
desta actualização (mais recentemente, com efeitos a partir apenas do início de
2015), o que põe em causa o Acordo negociado em sede de concertação social.
Para além do incumprimento
do Acordo, importa lembrar que Portugal ratificou as Convenção e Recomendação
da OIT que estabelecem a obrigatoriedade da revisão periódica do Salário Mínimo
e definem os critérios que devem presidir à sua revisão, o que o coloca
igualmente em falta. Acresce que tanto os empregadores como os trabalhadores se
manifestaram a favor da revisão para o ano de 2014.
Como interpretar então a
posição do governo? É certo que o argumento apresentado tem sido o de que se
trata de uma imposição da Troika, mas constata-se que o governo não parece
interessado em resolvê-la, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, com as
indemnizações por despedimento ilegal. Sendo assim, podemos concluir que o
verdadeiro motivo se situa do lado do cumprimento cego dos ditames ligados à
austeridade, advogada pelo programa de ajustamento. Muito embora os efeitos do
Salário Mínimo sobre a pobreza e a distribuição dos rendimentos sejam
inferiores aos das prestações da Segurança Social, vale a pena recordar um
estudo antigo da OCDE, que revelava que Portugal e os Estados Unidos da América
eram os países onde aqueles efeitos eram mais significativos, no conjunto dos
países analisados, muito especialmente no que se refere aos “working poors”.
Daí a relevância das revisões do Salário Mínimo, sobretudo em período de
dificuldades.
A incidência negativa sobre
o emprego e o desemprego, que tem sido também apresentada como razão para adiar
a revisão do Salário Mínimo, precisa também de ser convenientemente analisada,
uma vez que os estudos existentes têm geralmente concluído por um efeito negligenciável.
Tal iria provavelmente acontecer outra vez, sobretudo no caso de o aumento ser
moderado, sendo de prever que iria cobrir a evolução recente da inflação, mas
não recuperando a totalidade das perdas de poder de compra entretanto
verificadas.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Os comentários estão sujeitos a moderação.