Na semana passada, a
comunicação social voltou a falar do Salário Mínimo Nacional. Há quem advogue a
sua não actualização, se não mesmo redução, em nome da competitividade e da necessidade
de criar empregos. Até o Sr. Primeiro – ministro defendeu que uma subida do
actual nível salarial mínimo teria efeitos muito negativos sobre o emprego.
O jornal Público do passado
dia 11 de Março deu um importante contributo parta o esclarecimento da matéria
em análise. Os seus autores, Raquel Martins e Sérgio Aníbal, dão a conhecer os
resultados dos dois últimos estudos realizados para Portugal, que concluem por
um impacto diminuto sobre o emprego total, ainda que os efeitos possam ser mais
significativos nalgumas empresas e grupos de trabalhadores, como são os casos
dos jovens e das mulheres.
Ora, todos os estudos que
têm vindo a ser realizados, há vários anos, relativamente ao impacto do Salário
Mínimo sobre o emprego em Portugal têm chegado a conclusões muito semelhantes
às dos dois estudos mais recentes. De facto, a dimensão do efeito esperado
sobre o emprego ou o desemprego depende sobretudo do nível remuneratório atingido
ou que se pretende atingir. O valor do Salário Mínimo em Portugal está, desde há
alguns anos, muito perto do limiar de pobreza, e as mexidas que eventualmente
se venham a fazer dificilmente causarão danos à competitividade ou ao bom
funcionamento do mercado de trabalho.
Acresce que existem argumentos que permitem
olhar com desconfiança para as justificações apresentadas em relação aos seus malefícios:
·
Os modelos que são utilizados para estudar os
impactos do Salário Mínimo não estão especialmente vocacionados para cobrir os
períodos de crise económica, não tomando suficientemente em conta o seu efeito
sobre a procura e, consequentemente, sobre o emprego;
·
Portugal é um dos países onde existe um peso muito
elevado de “working poors”, sendo de prever uma subida da sua importância
relativa, no caso de se vir a manter ou a baixar o nível salarial mínimo;
·
Os
argumentos a favor de um Salário Mínimo baixo esquecem as disparidades salariais,
bem como o alargamento dos leques salariais, que têm vindo a atingir valores cada
vez mais elevados nos últimos anos, o que tem também contribuído para a subida
das desigualdades sociais.
Não deixa de ser sintomático
que em Portugal se esteja a discutir o valor do Salário Mínimo, supostamente
muito alto, ao passo que na Suíça a preocupação é com as remunerações e os
bónus dos executivos de topo, que foram mesmo objecto de um referendo.
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