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01 março 2013

Austeridade e desemprego: uma política ineficaz e um custo excessivo

É bem evidente o falhanço da política de austeridade na Europa, nos termos em que é ditada pelos mercados financeiros e a que muitos governos e a Comissão Europeia se submetem para, alegadamente, ganharem a confiança daqueles mercados.

Sem fundamento sério, tentam convencer as pessoas de que é necessário aguentar essas politicas, para que, depois da “destruição criadora” de empresas, venha a retoma económica, impulsionada por uma maré de excelentes empreendedores – privados, claro, pois o investimento público não é, do seu ponto de vista confiável.

A realidade tem vindo a desmentir esta profecia: quanto mais severas são as medidas de austeridade no Sul da Europa, mais as economias se afundam, ao mesmo tempo que o peso da dívida em relação ao PIB aumenta, pondo em grande risco a desejável retoma.

Agrava este cenário o facto desta austeridade não estar a ser contrabalançada por políticas expansionistas de outros países, que poderiam lançá-las sem risco de inflação. O regresso da recessão à Europa, com uma subida do desemprego sem precedentes, é já uma realidade.

Os números que a Direcção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho acabam de publicar, espelham uma situação alarmante. A taxa de desemprego no final do ano passado era já de 16,9%, os desempregados registados aproximavam-se de um milhão, sucedem-se os despedimentos colectivos e cada vez é menor o recurso a rescisões amigáveis.

O panorama europeu também é preocupante.

A taxa de desemprego na União Europeia, segundo o Eurostat, tem vindo a subir ligeiramente . Ela atinge, em Janeiro do corrente ano, 10.8% na U.E. a 27 e 10.9% na Zona Euro.

Em Portugal, esse agravamento é muito mais rápido: no espaço de um ano o desemprego teve um acréscimo de cerca de 3%, registando a taxa de desemprego, em Janeiro de 2013, um máximo histórico de 17,6%, com o desemprego dos jovens a chegar a 38,6%.

A piorar este cenário em Portugal, observa-se a redução de apoios sociais e compensações por despedimento, a par de permanentes revisões em baixa das estimativas de desempenho económico.

Os portugueses são diferentes de outros povos europeus... mas temos em comum a impossibilidade de conviver com níveis de desemprego muito elevados, destruidores da coesão social.

Surpresa com os recentes resultados eleitorais em Itália? Só para os muito distraídos!

E, afinal, todo o sofrimento que a austeridade arrasta, não é suficiente para convencer os mercados financeiros.

Como muitos economistas têm denunciado e demonstrado (vale a pena lêr Paul de Grauwe em Panic-driven austerity in the Eurozone and its implications... (1) ), o sentimento dos mercados financeiros não é sensível à austeridade mas sim a outro tipo de medidas: de facto, foram as declarações do BCE, de que estaria pronto a actuar para contrariar a especulação contra as dívidas soberanas, que acalmaram os mercados.

Acresce que, quando a austeridade gera recessão, os credores mostram descontentamento por verem em risco a cobrança das suas dívidas. Os mercados nunca estão satisfeitos...

Amanhã, mais uma vez, a sociedade civil portuguesa se manifestará nas ruas contra as políticas de austeridade sem fim à vista e com custos sociais insuportáveis.

Oxalá a sua voz se faça ouvir para que se abram caminhos de mudança como já ontem aqui escreveu Manuela Silva.

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[1] http://www.voxeu.org/article/panic-driven-austerity-eurozone-and-its-implications

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