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11 outubro 2012

Sem pão e sem futuro

Sem pão e sem futuro. Ou, por outras palavras, feridos na sua dignidade humana e desesperados.

Foi isto que me ocorreu, ao ouvir o Prof. Jorge Leite, na sessão de abertura do Congresso Democrático das Alternativas, falar do que ele chamou três escândalos sociais - o da fome, o do desemprego, o da desigualdade – numa perspectiva global e sistémica, não nos confinando ao horizonte nacional.

Quanto à desigualdade, Manuela Silva, na mesma sessão, já tinha chamado a atenção para a pobreza como atentado aos direitos humanos básicos. E Jorge Leite acentuou que “o sistema, em benefício de poucos, alimenta-se dos sacrifícios de milhões”.

Escândalo da fome. Provavelmente, muita gente pensará logo na fome no mundo, isto é, em horizontes longínquos em África ou na Ásia, e recordará imagens de crianças a morrer de inanição. Mas o escândalo da fome está aqui na Europa, onde 43 milhões de pessoas não têm recursos para ter uma refeição decente ao menos de 2 em 2 dias. Está aqui ao lado, em Espanha como se vê no jornal PÚBLICO de ontem com uma página sobre a campanha da Cruz Vermelha espanhola Agora + do que nunca apelando à ajuda dos cidadãos para acudir a lares onde a comida falta. Está aqui mesmo, no nosso país, na nossa vizinhança, embora não saibamos os números dos que estão em pobreza alimentar (sem pão, é evidentemente uma figura de estilo, mas já há gente a ter que poupar no pão de cada dia)): em 2010 falava-se em 300000 pessoas, hoje serão com certeza muitos mais. Basta pensar no aumento do desemprego e na redução de apoios sociais. Nestas circunstâncias de imposições troikianas acompanhadas de entusiasmos governamentais para aplicar essa redução, os chamados estabilizadores automáticos têm muito pouco de automáticos…

Escândalo do desemprego. Acrescente-se o da precariedade. E com os desempregados e os precários (em que avultam os jovens e qualificados) teremos a falta de perspectiva de futuro, a dificuldade em ter esperança e o piorar da saúde mental. Ontem, no jornal acima referido e numa entrevista a propósito do Dia Mundial da Saúde Mental, o psiquiatra Pedro Afonso sobre se seria exagero ter afirmado que Portugal é um país deprimido e com medo, respondeu que não, pois há indicadores que apontam para um aumento dos casos de depressão relacionados com a crise e “porque, neste momento, existe um clima de muito pouca esperança e de um grande sofrimento colectivo”, acrescentando mais à frente: E, acima de tudo…não se vislumbra um fim para esta situação. Essa é a grande questão. Todos nós suportamos durante algum tempo o sofrimento, mas é importante sabermos que tem um fim.” Aqui ao lado, em Espanha, com um quadro semelhante de austeridade (um desemprego a passar os 25% e andando pelos 50% entre os jovens), o jornal El País traz uma peça com o título: A crise faz disparar as depressões, e logo a seguir acrescenta: o desemprego e os despejos estão por detrás do aumento dos problemas de saúde mental.

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