É que o Zezinho, entretanto, cresceu e já não precisa de histórias para adormecer. Para adormecer, precisava era de andar mais tranquilo com tudo o que se está a passar neste país. Agora, o Zezinho é o Sr. José (Zé Povinho). Por isso, deixemo-nos de histórias e vamos ao que interessa.
Temos presente a recente cavalgada da taxa de juros, sempre que o Estado colocava dívida no mercado financeiro. Estranha cavalgada? Nem tanto. O ritmo da subida era atribuído ao comportamento das agências de rating, o que é verdade. Neste comportamento há elementos que nos podem surpreender e outros que nem por isso. Surpreende-nos a violação das regras de funcionamento dos mercados:
1. Concentração (lembram-se do que a União Europeia fez à Microsoft; porque não fez nada em relação às agências?);
2. Conflitos de interesses entre o comportamento das agências e dos seus accionistas (os accionistas investem em dívida cujo preço as agências aumentam);
3. Falta de transparência nas decisões (ninguém conhece quais são os critérios de que se servem para mudarem as notações);
4. Ausência de proporcionalidade entre as notações e as razões genéricas que invocam (a maior dificuldade dos países em poderem reembolsar a dívida; sabemos como aumentaram os juros no período de pouco mais de um mês, sem que nada de substancial quanto ao nível da dívida e quanto à robustez da economia se tivesse alterado).
A denúncia destes comportamentos está a ser feita aqui. Todos os que com ela estiverem de acordo podem subscrevê-la.
Perante estas violações, no espaço europeu, o que fez a União Europeia e os Estados que poderiam fazer alguma coisa? Nada! E porquê? Só há uma explicação: tinham interesse em que as coisas se passassem assim, porque eles próprios, as suas instituições ou os seus nacionais também são investidores na dívida.
Para além destas violações não me surpreende o comportamento das agências porque, na ausência de regulação, quando os Estados que recorrem à colocação de dívida se encontram em situação semelhante à da mosca na teia, elas mais não fazem do que prestar um bom serviço aos seus clientes.
Talvez o que surpreende é a razão pela qual as agências, de um momento para o outro, começaram a recomendar (ou a exigir) que Portugal fizesse o resgate da dívida (empréstimo que garante o pagamento da dívida). É que havendo resgate deixa de haver colocação de dívida no mercado (pelo menos ao mesmo ritmo que anteriormente) e, em consequência, deixa de haver possibilidade de continuar a ganhar com as manobras das notações.
A explicação é muito simples: as agências levaram até à exaustão a capacidade de pagamento do país e, quando começaram a perceber que poderia estar em dúvida o reembolso, trataram de se precaver. Conclusão: a chamada ajuda externa que por aí se está a negociar é ajuda para eles e seus clientes, mas quem paga somos nós.
E as agências vão agora ficar desempregadas? Elas, não, muitos dos portugueses, talvez. E porque não, as agências de rating? Também aqui se pode destapar a iguaria. A razão é a de que os investidores internacionais consideram que os investimentos na economia real são pouco rentáveis e desviam os capitais disponíveis para aplicações do mercado financeiro, mais rentáveis e mais facilmente manobráveis, como vimos acima.
Daqui resulta um extraordinário volume de liquidez no mercado que, pela sua natureza, é avesso à ausência de aplicações. O que vão fazer? Vão procurar identificar um país (Espanha, Bélgica, ou outro?) onde identifiquem maiores debilidades financeiras e, depois, mais nada há que fazer do que aplicar a estratégia da aranha.
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