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31 março 2011

A Honrosa Causa de Lula

A atribuição do doutoramento honoris causa pela Universidade de Coimbra ao ex-Presidente brasileiro Lula da Silva, que até à data recusara todos os graus do mesmo tipo oferecidos por algumas dezenas de universidades estrangeiras, justifica uma profunda reflexão. Para a qual sugiro ao leitor apenas três tópicos que me parecem mais relevantes no presente contexto nacional. 1) Trata-se dum homem que foi operário metalúrgico, estudou apenas até à quarta classe e, aos sete anos, trabalhou como vendedor ambulante de amendoim, tapioca e laranja. Mas também foi fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), o maior partido brasileiro, bem como um dos fundadores da Central Única de Trabalhadores (CUT). Candidatou-se por três vezes à Presidência da República do Brasil, sem êxito, sendo finalmente eleito em 2002. Foi de novo eleito em 2006. Que faz correr este homem? A revista Forbes não o incluiu na lista dos homens mais ricos do planeta, mas apenas entre os «mais influentes». Donde provém tal «influência»? 2) Durante os oito anos da presidência de Lula, o Brasil, na expressão dum seu ex-colaborador, Ladislau Dowbor, «atingiu outro patamar», no desenvolvimento sustentado, em termos económicos, sociais, ambientais e simplesmente humanos. Entre as várias dimensões dessa evolução, contam-se uma política nacional de apoio ao desenvolvimento local, nova política educativa e a inclusão produtiva dos trabalhadores. No entanto, Lula não recomendou a Portugal o recurso ao FMI, provavelmente por causa daquilo que, delicadamente, se chama a «condicionalidade da ajuda externa». Disse que Portugal deverá antes procurar, de preferência, apoios no quadro europeu. Mas, será que a «condicionalidade» desta ajuda é realmente diferente da outra? Parece que o Brasil de Lula mostra a justeza do velho adágio, posto na boca de Deus: ajuda-te que eu te ajudarei! Pois Lula, sem dúvida, não tem fé no FMI. 3) E já agora uma nota final sobre a Universidade de Coimbra, donde em tempos emergiu uma figura que profundamente marcou Portugal: o Professor Doutor Oliveira Salazar. É curioso registar o grande apreço agora publicamente manifestado em Combra a figuras como Amartya Sen e Lula da Silva. A referida universidade tornou-se hoje um pólo de reflexão para a criação duma «Nova Economia», ou seja para um olhar realmente novo e positivo sobre a profunda crise nacional. Crise que, afinal, radica numa falta de valores bem mais profundos do que o dinheiro. Valores que, sem dúvida, Lula possui com abundância.

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